sexta-feira, 18 de abril de 2014

Sábado Santo

O Silêncio que gera Liberdade

                  Após todas as agonias, medo, incerteza, tristeza e abandono da longa e dolorosa sexta-feira, seguimos no sábado, guardando o silêncio e a dor da morte do Senhor.
                Poderíamos trazer presente a figura da Virgem Maria, a mulher que no silêncio e no escuro da alma recorda seu Divino Filho, que cheio de amor e pureza é morto de maneira cruel e dura, as lembranças se fazem presentes na memória dela, que amparou em seus braços o corpo do seu Jesus, que quando menino ela acariciava os cabelos com a ternura de quem cuida com carinho daquilo (e daquele) que se formou em seu ventre, hoje este jaz em um túmulo. Poderíamos associar o frio e as sombras que assolaram o coração da Virgem, às sombras das tantas mães que perdem seus filhos, para as drogas, para a depressão, para um assalto inesperado... Enfim, para tantas situações que são impostas por um sistema miserável que beneficia a uns e sacrifica a outros.
                Reza a tradição e nós renovamos na oração do creio que após a sua morte, no sábado, o Senhor “desceu à mansão dos mortos” libertando as almas cativas, aqueles que nas sombras da morte estão presas, se olhamos ao nosso redor sabemos que temos também outros tipos de “mansões dos mortos”, e muitos desses “mortos” são nossos jovens, ou até mesmo partes de nós, o egoísmo que as vezes mata nossos olhos para ver as necessidades dos nossos irmãos, a ausência de fé que mata nosso coração para anunciar o reino pela palavra e pelo exemplo, a falta de sensibilidade e de cristianismo que mata nossa capacidade de entender nosso próximo e o comodismo que mata nosso compromisso de ajudar de maneira afetiva e efetiva àqueles que o Senhor nos coloca no caminho.
                Poderíamos elencar três grandes exercícios que se iniciam neste dia, o primeiro de perceber quem são as “Marias” ao nosso redor e ajudá-las, compartilhando do seu silêncio, consolando a dor da perda do seu filho e mais importante ainda, ajudando para que o brado da nova multidão diante do julgamento desses tantos “Jesus” dos nossos dias não seja um: Crucifica-o.
                Depois fazendo a experiência profunda da oração e da escuta da palavra, fazendo com que estas solenidades não sejam só mais uma vez uma celebração triste ou demasiadamente alegre, mas que seja um marco num novo rumo dentro de nosso processo pessoal de conversão e por fim libertando a tantos que jazem nas sombras da morte e precisam de nós para conhecer a luz, a paz e a liberdade.

                Nosso coração (assim como o da Virgem) se conforta ao saber que o silêncio deste dia é um posicionamento, uma aguardar pela grandeza de um Deus a quem homem algum é capaz de tirar a vida, mas que a dá com o coração aberto, para o bem dos próprios homens. No entanto a história não termina aí, sabemos que na noite desse dia silencioso os sinos dobrarão, poderemos cantar o aleluia sabendo que na comunhão que o filho de Deus estabeleceu entre os seus e a terra, ambos irão exultar de alegria e verão a Ressurreição daquele que de tão grande fez a morte algo pequeno e vencível.

Obesidade mental

Notícias
O prof. Andrew Oitke, catedrático de Antropologia em Harvard, publicou em 2001
o seu polêmico livro “Mental Obesity”, que revolucionou os campos da educação,
jornalismo e relações sociais em geral. Nessa obra introduziu o conceito em
epígrafe para descrever o que considerava o pior problema da sociedade moderna.
Há apenas algumas décadas, a Humanidade tomou consciência dos perigos
do excesso de gordura física decorrente de uma alimentação desregrada.
É hora de refletir sobre os nossos abusos no campo da informação e do
conhecimento,
 que parecem estar dando origem a problemas tão ou mais
sérios do que a barriga proeminente.
Segundo o autor, "a nossa sociedade está mais sobrecarregada de preconceitos
do que de proteínas; e maisintoxicada de lugares-comuns do que de hidratos
 de carbono. As pessoas se viciaram em estereótipos, em juízos apressados,
em ensinamentos tacanhos e em condenações precipitadas. Todos têm opinião
sobre tudo, 
mas não conhecem nada.”
"Os 'cozinheiros' desta magna fast food  intelectual são os jornalistas, os articulistas,
os editorialistas, osromancistas, os falsos filósofos, os autores de telenovelas e
mais uma infinidade de outros chamados 'profissionais da informação'".
"Os telejornais e telenovelas estão se transformando nos hamburgers do espírito. As revistas de variedades e os livros de venda fácil são os “donuts” da imaginação.
Os filmes se transformaram na pizza da sensatez."
"O problema central está na família e na escola."
"Qualquer pai responsável sabe que os seus filhos ficarão doentes se abusarem
dos doces e chocolates. Não se entende, então, como aceitam que a dieta mental
das crianças seja composta por desenhos animados, por videojogos que se
aperfeiçoam em estimular a violência e por telenovelas que exploram,
desmesuradamente, a sexualidade, estimulando, cada vez com maior ênfase,
a desagregação familiar, a permissividade e, não raro, a promiscuidade.
“Com uma ‘alimentação intelectual’ tão carregada de adrenalina, romance,
violência e emoção, é possível supor que esses jovens jamais conseguirão
viver uma vida saudável e regular”.
Um dos capítulos mais polêmicos e contundentes da obra, intitulado
"Os abutres", afirma:
"O jornalista alimenta-se, hoje, quase que exclusivamente de cadáveres
de reputações, de detritos de escândalos, e de restos mortais das realizações
humanas. A imprensa deixou há muito de informar, para apenas seduzir, agredir e manipular."
O texto descreve como os "jornalistas e comunicadores em geral se
desinteressam da realidade fervilhante, para se centrarem apenas no lado
polêmico e chocante".
"Só a parte morta e apodrecida ou distorcida da realidade é que chega
aos jornais. O conhecimento das pessoas aumentou, mas é feito de banalidades.
Todos sabem que Kennedy foi assassinado, mas não sabem quem foi Kennedy.
Todos dizem que a Capela Sistina tem teto, mas ninguém suspeita para quê ela serve.
Todos acham mais cômodo acreditar que Saddam é o mau e Mandella é o bom, mas
ninguém se preocupa em questionar o que lhes é empurrado goela abaixo como informação.
Todos conhecem que Pitágoras tem um teorema, mas ignoram o que é um cateto."
Prossegue o autor:
“Não admira que, no meio da prosperidade e da abundância, as grandes realizações
do espírito humano estejam em decadência.
 
A família é contestada, a tradição
esquecida, a religião abandonada, a cultura banalizou-se e o folclore virou ‘mico’.
A arte é fútil, paradoxal ou doentia. Floresce, entretanto, a pornografia,
o cabotinismo (aquele que se elogia), a imitação, a sensaboria (sem sabor) e o egoísmo.”
“Não se trata nem de uma era em decadência, nem de uma ‘idade das trevas’
e nem do fim da civilização, como tantos apregoam. Trata- se, na realidade,
de uma questão de obesidade que vem sendo induzida, sutilmente, no espírito
e na mente humana.
 O homem moderno está adiposo no raciocínio, nos gostos
e nos sentimentos. O mundo não precisa de reformas, desenvolvimento, progressos. 
Precisa sobretudo de dieta mental.”

Por Prof. João César das Neves
Fonte: Diário de Noticias em 22/03/2004 (Portugal)
http://www.umaoutravisao.com.br/artigos/mental/obesidment.html